Governo foca negociação em tarifa do café e vê chance de recuo de Trump
Com o recuo parcial de Donald Trump e a exclusão de parte da pauta exportadora brasileira do tarifaço, o governo agora concentra o foco das negociações na tentativa de ampliar a lista de exceções. O foco principal, neste momento, é o café.
Negociadores ouvidos pela CNN avaliam que o recuo inicial de Trump, que isentou 45% dos itens exportados pelo Brasil, indica que ainda há espaço para negociação dentro da lógica comercial americana.
Seguindo essa leitura, o café é considerado pelo governo o produto com maior potencial de obter um tratamento diferenciado. Os Estados Unidos não têm uma produção expressiva da commodity, com cultivo restrito ao Havaí, Califórnia e a Porto Rico.
O setor privado do Brasil estima que cerca de 30% do café consumido nos EUA seja brasileiro. Para o governo, é improvável que o produto seja totalmente isento, mas há expectativa de que a alíquota aplicada fique abaixo dos 50% — entre 20% e 30%.
O próprio secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, já admitiu que produtos como café e cacau podem ser incluídos em uma futura rodada de isenções.
Dados da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) mostram que, mesmo com a tarifa mais alta, o café brasileiro seguiria competitivo no mercado norte-americano.
A carne bovina, por outro lado, enfrenta mais resistência para uma redução tarifária, na avaliação dos técnicos, apesar de também estar no centro das negociações para as próximas etapas.
Paralelamente ao diálogo com os EUA, o governo brasileiro também mapeia mercados alternativos para mitigar os impactos do tarifaço.
A intenção do Brasil não é substituir integralmente o mercado americano, algo considerado impossível devido à complexidade das cadeias produtivas e ao tamanho do mercado consumidor dos EUA, mas diversificar destinos para minimizar os impactos.
No caso do café, as autoridades apontam China e Índia como destinos estratégicos. Embora o consumo de café ainda não seja tradicional nesses países, ambos apresentam forte crescimento da demanda e são grandes mercados consumidores em potencial.
Para a carne bovina, o governo vê a Arabia Saudita como um destino possível.
Em 2024, o país importou cerca de US$ 487 milhões em carne bovina desossada congelada, um mercado em crescimento desde 2020. Os maiores fornecedores são Índia (US$ 197 milhões), Brasil (US$ 149 milhões) e Austrália (US$ 73 milhões).
O Brasil se destaca na Arábia Saudita por ter 140 estabelecimentos habilitados pela autoridade sanitária local (SFDA), o maior número entre os exportadores.
O governo brasileiro estima um potencial adicional de exportação para a Arábia Saudita de cerca de US$ 54 milhões por ano.
Vietnã e Singapura também são vistos como mercados promissores para a carne bovina brasileira. O mercado vietnamita, por exemplo, foi aberto em março para a carne do Brasil.
Fonte: CNN Brasil